quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Experiências intensas e inesquecíveis...

Trabalho há cerca de dois anos e meio com crianças que são encaminhadas para adopção. Até agora já passaram 15 meninos directamente por mim, dos quais três ainda permanecem institucionalizados.
Tenho dito a muita gente que o segredo para não chorar muito nesta profissão é ver as coisas sempre pela perspectiva das crianças/ bebés. Assim pensamos que é melhor irem para ali do que estarem em determinadas condições na família biológica e acreditamos que é melhor irem para a família adoptiva do que permanecerem ali, mudando de cuidadores de 8 em 8 ou de 10 em 10 horas...
Em todas as integrações em famílias adoptivas que fiz houve sempre uma certa magia. De alguma forma aquela criança parecia-se com o pai ou com a mãe e de um momento para o outro acabava por criar laços muito fortes com a sua nova família. Estamos a falar de bebés com menos de 2 anos, muitos deles com menos de 15 meses. O que acontecia com frequência é que no último dia de integração, conhecendo já a sua nova casa, estes bebés ainda dormiam na instituição mas não se misturavam com os seus amiguinhos como que afirmando que já não pertenciam ali. Não brincavam com eles e sempre que estes se aproximavam eles refugiavam-se no adulto presente na sala.
Penso muitas vezes na adopção como um acto de coragem, sim! Muitas vezes os pais adoptivos não estão preparadas para tudo o que irá acontecer no futuro mas quem o está? Nem sequer os pais biológicos estão muitas vezes.
O que eu gostava muito é que encarassem no futuro todos os pequenos ou grandes problemas como normais de um processo de crescimento da criança, que acontece em todas as famílias mas que as adoptivas podem interpretar de forma errada por não serem os pais biológicos.
Muito se fala em Portugal dos pais do coração... é preciso muita capacidade de amar para adoptar alguém que não é nosso. Se são capazes de o fazer, então, esse mesmo amor será a grande arma destes casais e destas famílias.
Uma das coisas que me magoa um pouco embora acabe por entendê-la de certa forma, é o facto destes pais mudarem o nome dos seus filhos. Principalmente quando são meninos com mais de um ano... acho, sinceramente, que é um egoísmo demasiado grande embora reconheça que ajuda os pais a fazerem uma vinculação mais serena áquela criança.
Para terminar, gostava de vos contar aqui algo que me tocou particularmente. Uma mãe que ao conhecer a sua filha de 3 meses apenas, se apaixonou tão automaticamente que já não queria sair dali para nada, nem sequer para almoçar... Em todo o longo dia ela não conseguiu tirar os olhos da sua filha, nem sequer para tirar uma fotografia com a equipe que os acompanhou ao longo de todo o processo... que todas as mães e todos os pais adoptivos sejam capazes desta intensidade desta maternidade e paternidade interna...
Bem hajam!

4 comentários:

Vilma disse...

Gostei muito de ler!
Fez-me relembrar tudo o que vivemos com a nossa dádiva!
És como um anjo que Deus colocou no caminho dessas crianças! :))
Um abraço e que Ele te abençoe muito.

ZzabeLinha disse...

QUerida Amiga

Acabei e ler os teus posts,as tuas ideias e desabafos.
Sabes que a sensação de perda é comum a todos os que trabalham com crianças.De alguma forma,o ano lectivo acaba e fica a noltalgia dos pequeninos a quem demos afecto.
Beijinhos
Isabel

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ disse...

Nangba, bom dia!

Eu também trabalhei de certa forma com criancas em orfanato. Ia contar-lhes estorinhas todos os sábados à tarde. Elas sabiam que eu vinha e ficavam embaixo da árvore me esperando. Era um sentimento muito bom aquele.

Por isso, posso imaginar que essa mulher que se apaixonou por esse bebê nem queria mais deixá-lo.

Muito obrigada pela particpacao e por dividir conosco o seu relato sobre o teu trabalho com as criancas.

Imagino também que muitas das vezes vc se vê tao envolvida com as criancas que já nao sabe mais separar-se deles.

Bom fim de semana e obrigada

Nangba disse...

Olá zzabelinha,
obrigada pelo comentário e de facto, de alguma forma podemos comparar as duas situações. No entanto, enquanto educadora no Jardim de Infância, todo o final do dia me fazia recordar que aqueles meninos não eram meus e que, por muito que eu fizesse eles num segundo poderiam deitar tudo a perder...
Aqui, neste trabalho, saio muitas vezes com eles no coração avaliando o que deveria ter feito para que se assemelhassem a bebés em seu núcleo familiar...
Dia a dia, dependem de mim e das minhas colegas para poderem SER. Não há mãe ou pai que os venha buscar e dar o medicamento e afagar quando vão dormir e... e... e...
Quando vão para adopção é que é como se nos dessem um grande murro: "minha parva, já te esquecias? Ele não é teu!"
Mas sim... a grosso modo podemos compará-lo...