quarta-feira, 3 de outubro de 2007

um Cromossoma a mais

Numa revista sobre crianças li uma entrevista a Bibá Pitta que me deixou ternamente comovida.

Enquanto ia desfiando as características principais de cada um dos seus cinco filhos, afirmando que são todos diferentes, nem melhores nem piores, chegou à sua filha do meio, uma criança diferente com Sindrome de Down: "A Madalena é uma miúda cheia de garra. Esta sim, é a filha cujas vitórias são sempre festejadas, porque todos, incluindo eu e o pai, quando queremos fazer uma coisa sabemo-la fazer mas ela tem de aprender tudo do nada."
Foi-me dada a honra, em breves instantes da minha curta jornada por aqui (pela vida) de partilhar dias maravilhosos com pessoas que se encaixam neste conceito de diferente. Foi das lições de vida mais profundas para mim.

O Centro de Deficientes Profundos João PauloII é, a meu ver, um local por onde todas as pessoas deviam ser obrigadas a, mais do que passar, entrar e permanecer estendendo as suas mãos, quer físicas quer do coração.
Ali aprendemos o quão deficientes somos em relação à humanidade e profundidade daqueles seres a quem designamos de diminuídos. E chegamos facilmente à pergunta: "Quem são os verdadeiros deficientes?".
Bibá Pitta diz ainda: "Sendo ela como é, com o seu cromossoma a mais, com a sua Trissomia 21 é um ser humano fabuloso".

Acho que temos de desenvolver em nós este cromossoma a mais... pelo menos no coração!


Acho que aproveito o momento para vos contar um pequeno episódio.

No final de quinze dias vividos lado a lado, anexava ao beijo de boas noites um "até breve", que não sabia muito bem quando seria.
Estava feliz. Não por me ir embora mas por ter podido viver momentos tão fortes com aquelas meninas/ senhoras/ seres humanos tão puros!
Quando me aproximei da Sandra, olhei-a nos olhos e disse-lhe que me ia embora mas que voltaria para a ver e para estar com ela.
Num movimento brusco, repentino e inesperado Sandra lançou a mão na direcção do meu pescoço agarrando-me a camisola e puxando-me para si... Assustei-me por instantes até que percebi que tinha a minha cara colada à sua boca e que naquele gesto tentava dar-me um beijo...

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