sexta-feira, 12 de outubro de 2007

ALMA E CORAÇÃO...

Tenho o privilégio de ter um emprego em que a alma e o coração têm a primeira e a última palavra. É um trabalho exigente (umas vezes mais do que outras), sempre com muita intensidade e responsabilidade à mistura.



já lá vão nove, os bebés que passaram (e alguns ainda permanecem) pelo meu colo e pelos meus cuidados... seis já seguiram o seu próprio rumo...



São muitos os conselhos de quem me conhece para que não me envolva tanto para não sofrer quando partem mas como se pode ser o mais próximo da figura materna que estes bebés conhecem se não nos envolvemos, se não nos dedicamos e se não amamos profundamente? Como lhes mostrar que há esperança de um dia serem naturalmente felizes sem criar laços e sem lhes dar a certeza de que estão protegidos e de que cuidamos do seu futuro como seres humanos...



Cada vez que um bebé nos deixa fica um vazio, não só na sua cama e no espaço que lhe pertence naturalmente nas nossas rotinas diárias mas também no nosso coração.



Fica a sensação de que, ao respirar, não se consegue fôlego suficiente.



Não podemos ser egoístas ao ponto de os querermos perto de nós. Com uma mãe postiça de 8 em 8 horas. Temos de encarar a saída daqueles pequeninos como um novo começo nas suas vidas. Uma nova tentativa do universo para que sejam profundamente felizes.



Não concordo com Nancy Verrier, em "Compreender a criança adoptada" (por muita experiência e conhecimento de causa que tenha para além dos meus) quando fala de tantos problemas gerados nas crianças por causa da adopção. Até posso aceitar que existam de facto muitos problemas, não sei até que ponto são mais graves do que aqueles que todos os seres humanos passam ao longo do seu crescimento normal, uns com maior capacidade de gestão de emoções do que outros... Simultaneamente, não posso deixar de pensar em todas as crianças que não têm a sorte de ser encaminhadas para uma família de adopção e que padecem horrores inimagináveis ao longo de toda a sua vida e que se tornam, inevitavelmente, seres maltratantes criando uma bola de neve difícil de conter.



O primeiro destes bebés que esteve a meu cargo considero-o um puro milagre. Deus queria mesmo que ele vivesse e sobrevivesse. Talvez tivesse de dar uma bela prenda ao casal que o adoptou... nasceu no meio do lixo. No meio de seringas e de drogados... Por sorte... por milagre ... por Deus... o parto complicou e alguém teve de encaminhar a alma que o gerou para um hospital. Graças a isso o meu guguinha sobreviveu... como me podem fazer acreditar que deveria ser encaminhado para os braços daquela mãe biológica que nem se deu conta de que estava grávida até ao oitavo mês de gestação?



Por muitos problemas que este menino venha a ter ou a dar aos seus pais adoptivos não vejo que devesse ser entregue àquela pessoa. Pessoa?...



Ontem saiu a "Caracolitos doirados", que não tinha nem caracois nem cabelo doirado... vou sentir saudades do seu choro que dava luta a consolar, do seu sorriso que nos transmitia que tinha uma louca paixão por nós, da forma como se deixava ficar ao colo procurando carinho e afecto.


Que Deus te acompanhe minha caracolitos!

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